Chorar na avenida é algo corriqueiro para mim. Já perdi as contas de quantas vezes a alegria se fez tristeza. Mas não nesse carnaval! Tudo bem que tomei um baque danado antes de ir pra rua, graças que ainda era a primeira noite! Sequei as lágrimas teimosas e engoli o soluço, vesti minha fantasia e fui ganhar a rua atrás do trio elétrico. Minha fantasia fazia jus a meu estado de espírito... Me fantasiei de clown, com direito saia bufão e maquiagem berrante. Inventei umas lágrimas pintadas e saí em busca de Dalila.
E como eu encontrei Dalila! Ela me acompanhou na frente do Gandhy, atrás de Armandinho, de Margareth, até de Daniela! Dalila fez o carnaval acontecer nessa cidade de meu Deus. Mas Dalila estava catando latinhas, em cima do trio, segurando as cordas dos blocos carérrimos, nos camarotes que insistem em ver a festa passar, também tava vendendo latão a 3 por R$ 5... Essa Dalila não é mole!
Dalila também tomou uns bons empurrões e tapas da polícia e dos seguranças... Mas Dalila só queria ajudar o amigo que tava bêbado ou tava mijando encostada numa parede qualquer. Pelo jeito a festa não é para todas as Dalilas.
Mas eu e Dalila bombamos! Descobrimos que vários corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço, que a distância entre dois corpos é um pisão no pé ou empurrão, que o latão sempre esquentará se não for compartilhado, que é possível passar 13 horas na farra, que o Crocodilo é o bloco da Diversidade, que o Voa Voa com o Chiclete bota pá fudê (e que não tenho coragem de ir nessa corda!), que não existe nada melhor que o Porto da Barra pra dar um dois-altos antes de cair na folia de novo, que não precisamos pegar todos os colares dos Gandhy que... enfim! Isso é dar pala de piriguete!
Carnaval é carnaval... Alguém já deve ter dito isso, e é a pura verdade. Não há como explicar esse troço que vai balançando, movendo, incitando. O carnaval de Salvador vai tirando as amarras dessa sociedade opressora e esnobe. Pena que acaba com o arrastão da Timbalada na quarta de cinzas e tudo volta à ordem "natural" das coisas.
O melhor de tudo é saber que o carnaval sou eu, Dalila, Joaquim, Maria, José, Ana; aqueles e aquelas que são a festa. O carnaval é o povo na rua se esfregando, se comendo, se amostrando, em atos de puro antropofagismo (tem sentido também figurado, viu?!). A gente costma fazer aquelas coisas que só em nosso banheiro pensamos na hipótese de algum dia fazer algo semelhante. Mas é carnaval!
Vai buscar Dalila ligeiro!
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