27 de fevereiro de 2009

Vai buscar Dalila!

Chorar na avenida é algo corriqueiro para mim. Já perdi as contas de quantas vezes a alegria se fez tristeza. Mas não nesse carnaval! Tudo bem que tomei um baque danado antes de ir pra rua, graças que ainda era a primeira noite! Sequei as lágrimas teimosas e engoli o soluço, vesti minha fantasia e fui ganhar a rua atrás do trio elétrico. Minha fantasia fazia jus a meu estado de espírito... Me fantasiei de clown, com direito saia bufão e maquiagem berrante. Inventei umas lágrimas pintadas e saí em busca de Dalila.

E como eu encontrei Dalila! Ela me acompanhou na frente do Gandhy, atrás de Armandinho, de Margareth, até de Daniela! Dalila fez o carnaval acontecer nessa cidade de meu Deus. Mas Dalila estava catando latinhas, em cima do trio, segurando as cordas dos blocos carérrimos, nos camarotes que insistem em ver a festa passar, também tava vendendo latão a 3 por R$ 5... Essa Dalila não é mole!

Dalila também tomou uns bons empurrões e tapas da polícia e dos seguranças... Mas Dalila só queria ajudar o amigo que tava bêbado ou tava mijando encostada numa parede qualquer. Pelo jeito a festa não é para todas as Dalilas.

Mas eu e Dalila bombamos! Descobrimos que vários corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço, que a distância entre dois corpos é um pisão no pé ou empurrão, que o latão sempre esquentará se não for compartilhado, que é possível passar 13 horas na farra, que o Crocodilo é o bloco da Diversidade, que o Voa Voa com o Chiclete bota pá fudê (e que não tenho coragem de ir nessa corda!), que não existe nada melhor que o Porto da Barra pra dar um dois-altos antes de cair na folia de novo, que não precisamos pegar todos os colares dos Gandhy que... enfim! Isso é dar pala de piriguete!

Carnaval é carnaval... Alguém já deve ter dito isso, e é a pura verdade. Não há como explicar esse troço que vai balançando, movendo, incitando. O carnaval de Salvador vai tirando as amarras dessa sociedade opressora e esnobe. Pena que acaba com o arrastão da Timbalada na quarta de cinzas e tudo volta à ordem "natural" das coisas.

O melhor de tudo é saber que o carnaval sou eu, Dalila, Joaquim, Maria, José, Ana; aqueles e aquelas que são a festa. O carnaval é o povo na rua se esfregando, se comendo, se amostrando, em atos de puro antropofagismo (tem sentido também figurado, viu?!). A gente costma fazer aquelas coisas que só em nosso banheiro pensamos na hipótese de algum dia fazer algo semelhante. Mas é carnaval!

Vai buscar Dalila ligeiro!

17 de fevereiro de 2009

E meu canto fez-se pranto

Talvez eu não consiga explicar para ninguém o que as lágrimas que agora rolam em minha face significam. Talvez eu nem saiba o que essa dor significa. Talvez ela só exista e me consuma. Há muito e muito tempo não sinto algo assim... Do mesmo jeito que foi mágico e intenso agora se desfaz. Se desfaz em minha alma a magia que outrora acreditei existir. Mas ela existiu! Tanto existiu que agora me toma os sentimentos de perda, de vazio, de solidão e tristeza. Meu canto fez-se pranto. Minha criatura se tornou maior que eu. Meus desejos consumiram minhas energias até não mais existir nada, nada. Achei que não sentia nada, só achei. Não passou dois dias e a dor toma conta de meu peito. A voz tá embargada, o coração apertadinho. Meu desejo se tornou maior que eu, maior do que meus pueris limites imaginários. Agora? Não sei o que faço com esse turbilhão de emoções que correm feito cavalos selvagens na imensidão.

A vontade e o desejo me consumirão sempre. Jamais abandonarei estes parceiros nem tanto leais. Mas só quem vive tudo junto e ao mesmo tempo sabe o doce sabor de acreditar em magia. Do mesmo jeito que agora, mais uma vez, experimento o amargo sabor da tristeza. Viverei minha tristeza sem hesitar, ela também é parte desse todo que me consome.

Em meio aos dias de folia me sinto como uma colombina... Meu pierrot? Talvez esteja bailando também tentando se reerguer daquilo que não ajudei a construir.

Sou a terceira pessoa do singular.

Sou um "l" minúsculo em arial...

REBELE-SE

Ultimamente, tenho sido incomodado por uma mosca varejeira das mais chatas que podem existir e importunar qualquer ser humano na face da Terra: a mosca da inércia. A inércia da população tem me incomodado bastante nos últimos tempos. Temos escutado cada absurdo, temos visto cada escândalo e ficado calados. Parece-me que esquecemos nosso passado como atiradores de pedra; penduramos nossos estilingues e ficamos com medo de quebrar vidraças. Espero estar errado, mas, ultimamente tenho percebido que a população se calou perante fatos esdrúxulos na política. Os movimentos populares entraram em um grande jogo de empurra-empurra, querendo culpar uns aos outros e, no final das contas, ninguém se manifesta. Estava outro dia conversando com um sindicalista amigo meu, e ele me falou que a “juventude está paralisada diante de tudo. Não se manifestou contra a crise, não se manifestou perante certos absurdos”. Realmente. Devo dizer que concordo em partes com meu nobre companheiro, entretanto, devo complementar dizendo que não é apenas a juventude que está paralisada, mas, sim, a juventude, os sindicalistas, o movimento negro, enfim, a critica tem que ser generalizada. Ora, enfrentamos vários momentos complicados na política brasileira como castelo de deputados, problemas sérios de segurança pública, e, mais voltado para dentro da realidade baiana e soteropolitana (mais especificamente ainda) temos vários problemas com a nossa administração municipal: suspeita de improbidade administrativa, reforma administrativa duvidosa, vereadores envolvidos com contravenção, dentre outras coisas. Não é possível que eu seja o único que vê estas coisas, ou que chama a discussão sobre isto. Sempre gosto de afirmar que não sou dono da verdade, nem tampouco candidato a Cristo, muito menos detentor de toda a moralidade do universo; ouso-me até a afirmar que sou o mais imoral dentre os mortais. Quanto à minha honestidade, só posso garantir que sou mais honesto do que Paulo Maluf. O que eu quero dizer é que a juventude do século XXI realmente deve ser grata àqueles que deram suas vidas, seu sangue e seu suor para construir esse tal de Estado Democrático de Direito em que vivemos hoje, e, como jovem, agradeço-lhes, porém, a biologia já comprovou que só os que vivem em bando conseguem sobreviver às adversidades da vida. Ernesto “Che” Guevara de la Serna foi prova viva de que sozinho não se vence nenhuma batalha e os vietcongs provaram que a união faz com que o inimigo mais forte seja derrotado. Aí, quero deixar a minha humilde opinião e dizer que a juventude sozinha não vai mudar o país, mas a juventude, o movimento negro, os sindicalistas, os gays, as lésbicas, os travestis e transexuais, as mulheres, os índios, todos juntos, mudaremos a história, como sempre foi. Também sinto extremamente necessário deixar minha dura crítica: Estado é uma coisa, partido é outra e Bobbio define isso brilhantemente. Defender os interesses do Estado é uma coisa, defender interesses partidários é outra. É necessário intervir na ação do governo, seja ele de direita ou esquerda. O poder é tão cobiçado, tão desejado para ser a arma de transformação social, e, quando temos essa arma nas mãos, não sabemos como usá-la! Por fim, queria deixar uma mensagem muito simples: REBELE-SE. Fazer oposição não é apenas bater no peito e dizer que é oposição; fazer oposição é escrever, é ir para a rua e não temer retaliação do governo, porque a manifestação do pensamento é livre e a constituição nos assegura. Transformação social é tomar atitudes, é respeitar, é investigar e denunciar o que estiver errado no governo, e é também “tirar o chapéu” quando algo de bom for feito. Fazer a revolução não é apenas pegar numa arma, mas é saber, também, usufruir do intelecto em prol das transformações sociais.

Thiago Carvalho

16 de fevereiro de 2009

"CARNAVAL, CARNAVAL, EU FICO TRISTE QUANDO CHEGA O CARNAVAL"

Infelizmente, nos dois primeiros meses de administração do reeleito prefeito de Salvador, conseguimos fazer um prognóstico do tamanho da mediocridade e incompetência administrativa daquele que se diz gestor da 3ª maior Capital do Brasil.
Primeiro observamos a desorganização dos vendedores ambulantes; aquele mesmo prefeito que prometera olhar pelos camelôs, foi o que colocou os homens de coletes azuis "o rapa" nas ruas apreendendo mercadorias de pais de família que dependem do comércio informal para tirar o sustento de suas famílias, lembrando que, há alguns meses antes das eleições, ele havia os tirado das ruas. Depois somos obrigados a engolir uma reforma administrativa mentirosa, em que se reduz o número de Secretarias Municipais, entretanto, cada Secretaria nova tem um coordenador para cada função, por exemplo: a antiga SESP hoje abriga a SET, a SESP, a Guarda Municipal e o Salvar, sendo que, cada setor desses tem um coordenador com status de secretário. Não podemos esquecer também, da autorização para erguer um edifício no lugar do Clube Espanhol na Barra, sem nem mesmo querer saber quais os impactos ambientais que isso pode nos trazer.
Como se não bastasse, o que se diz prefeito de Salvador achou pouco todos os seus despautérios e resolveu declarar que para o carnaval de Salvador acontecer ele tira o dinheiro da educação e da saúde. Agora observemos o tamanho deste absurdo: tira-se o dinheiro de estruturar os postos de saúde e comprar remédios, o dinheiro de reformar as escolas e investir no futuro da juventude soteropolitana para que o carnaval das maiores discrepâncias sociais possa acontecer. Senhor Prefeito, não achas suficiente os R$45 mi que o governo do Estado disponibilizou para o Senhor, com toda a sua incompetência, realizar o carnaval de maior contraste social do mundo? E tem mais! Reduzir o efetivo dos funcionários para trabalhar no carnaval, com o mero intuito de privilegiar os "afilhados" de vereadores e secretários. Sinceramente, prefeitinho, me faça uma garapa!
Se fosse um bom administrador e quisesse, realmente, discutir o carnaval de Salvador, o Senhor estaria preocupado em saber por que os blocos afro e afoxés saem à noite e os blocos onde os negros do carnaval de Salvador estão na corda trabalhando saem de dia; ou quem sabe, porque existem tantos negros catando latinha enquanto o turista se diverte e humilha a população de sua cidade, Sr. João Henrique Carneiro, fazendo turismo sexual durante o carnaval; ou qual o motivo daquele povo deixando sua cidade feia, dormindo na rua, por estar cansado de trabalhar o dia inteiro, vendendo cerveja e "churrasquinho de gato" pra tirar alguma renda e não morrer de fome. Aí sim, o senhor estaria discutindo o carnaval de Salvador.
Se nos dois primeiros meses foram feitas tantas CAGADAS em uma única administração, imagina só o que vem daqui pra frente! Espero que os Orixás realmente estejam olhando por essa Cidade que todo mundo é de Oxum, de Xangô, de Oxossi, de Ogum, de Oxalá, etc.


Thiago Carvalho