13 de março de 2010

Argonauta



Tenho a sede por teu beijo me corroendo a alma. Aguardo pacientemente pela tua chegada. Desejo novamente as mãos dadas na tarde de sábado e o beijo demorado na despedida. Detesto nossos desencontros e fico a planejar uma forma de te ter perto, te ter por inteiro. Quero o teu cheiro se misturando com o meu, quero a tua boca e o teu riso, quero os teus olhos em mim, quero as tuas mãos a desvendar cada milímetro do meu corpo. Quero a tua alma.

Talvez deseje demais, mas nada é tão sublime quanto te ter perto, atento. O teu riso solto e as tuas gracinhas me deixam com a cara de boba. A tua voz me embriaga e embala nessa ciranda doida, nesse esconde-esconde infindo. Todas as músicas que ouço te trazem perto. Ganho asas ao lembrar de ti e navego como uma argonauta por esses caminhos tortuosos que a vida nos coloca. És meu Velo de Ouro.


11 de março de 2010

Espanca

Cantigas leva-as o vento

A lembrança dos teus beijos
Inda na minha alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desaparecido
Revive numa saudade!

(Florbela Espanca - Trocando Olhares)


Fui o mais séria possível. Não ri, não demonstrei que as pernas bambearam, escondi a pontinha de felicidade que surgiu. Não pretendo sentir o sabor amargo de outrora. A saudade deixo ficar e se instalar, meu coração fica mudo e sabe o que não deve fazer. Não sou o corifeu, agora sou platéia.

A flor não me engana mais, já sei de seus espinhos.

9 de março de 2010

8 de março: pelo direito das mulheres viverem a juventude!

Faz 100 anos que o “8 de março” é o dia de luta das mulheres. Existem diversas histórias relacionadas a essa data. O mais comentado é um possível incêndio em Nova York , greve por mais direitos. O fato é que tratou-se de uma opção política das mulheres socialistas, em Congresso, unificando um dia de luta.

A data ultrapassou grandes momentos, encabeçou muitos enfrentamentos políticos, sociais e econômicos. Superou desafios, acumulou conquistas e direitos. Aos 100 anos, podemos dizer, muita coisa mudou. Podemos apontar que a vida das mulheres sofreu uma grande transformação.

Mas sigamos com cautela, não é tempo de comemorações.

Sabemos que as desigualdades permanecem. E hoje também é dia de darmos destaque e visibilidade aos dados alarmantes. O globo noticiou no “oglobo.com”: “Mais qualificadas, mulheres continuam ganhando menos que os homens, diz IBGE”. Mais precisamente, as mulheres recebem “72%” do salários dos homens, em média. No jornal de domingo, no caderno “Boa Chance”, a manchete diz “Explode o assédio. Denúncias cresceram 723% no Rio nos últimos 5 anos”. Sabemos que não trata-se de uma questão regional.

Nesse mesmo sentido, os casos de abortos clandestinos – e mortes relacionados aos mesmos – permanecem subindo; as mulheres continuam responsáveis solitárias pelo trabalho “doméstico”. A violência contra a mulher ainda existe e é praticada por membros de sua própria família. As mulheres permanecem excluídas dos espaços de decisão e poder da sociedade.

Bom, precisamos também falar da tão aclamada e desejada “feminilidade”. Tal termo está relacionado a um modelo existencial para todas as mulheres, mas dirige-se notadamente às mulheres jovens. Constrói uma rede de exigências para se chegar ao título “feminina”, que pretende-se ideal de todas. Para além da estética, envolve um comportamento determinado.

Quase uma fantasia. Elas precisam se “vestir” daquilo que é esperado delas. Precisam correr o dia todo, dar conta do estudo associado ao trabalho. Devem andar mascaradas – ops! Muito maquiadas – além de utilizarem todos os tipos de apetrechos necessários para se transformarem verdadeiramente em “mulheres jovens”. Afinal de contas, ser mulher jovem é uma construção social definida pela quantidade de cosméticos, utensílios estéticos e disponibilidade para o desejo, principalmente sexual, do outro. Ah! Sim... com muito rosa, pois essa é a cor da “feminilidade”.

A realidade é dura e opaca. Está em oposição à plastificação estética exigida. Não vem revestida. As mulheres jovens são maioria no emprego precarizado, postos temporários, setor de telemarketing, profissões relacionadas a estética, setor terciário. Assumem cada vez mais novas o trabalho doméstico. A gravidez precoce permanece uma questão nas suas vidas.

Em razão desse contexto, vivem em constante insegurança. Suas vidas também são marcadas por uma permanente insatisfação e ansiedade, diante das exigências inalcançáveis. Não disponho de estatísticas, mas cada dia “novas” doenças surgem, diretamente relacionadas às mulheres. A bulemia, anorexia e transtornos de ansiedade são bons exemplos.

Abriram-se novas perspectivas, desde 2002, com o governo Lula. A juventude tornou-se um direito. E, nesse 8 de março, queremos afirmar o direito das mulheres viverem a juventude! Aos 100 anos reafirmamos que o desafio para a construção da igualdade permanece político.

Defendemos uma agenda que caminhe progressivamente pela postergação da entrada das mulheres jovens ao mercado de trabalho, acesso à educação, à cultura e saúde. Para tanto, alguns passos são fundamentais: uma efetiva política de assistência estudantil; creches; meia entrada para toda a juventude; legalização do aborto. Tudo isso combinado com uma política efetiva de inclusão das mulheres em todos os espaços de direção política.


Ana Cristina Pimentel

Secretária Estadual da Juventude do PT Minas Gerais

8 de março de 2010

Porque luto!


Hoje é dia de receber flores, emails com frases de efeito me felicitando pelo dia, mulheres dando entrevistas em rádios, vários anúncios ressaltando a importância desta data. Queria que o dia da Mulher fosse todo dia, mas nos outros 364 dias do ano somos ainda as vítimas da violência, da mercantilização de nossos corpos e vidas. Os bancos podem até me dar flores de presente hoje, as lojas podem me dar brindes como numa grande festa, mas devemos lembrar que não estamos numa sociedade justa e igualitária.

Luto por uma sociedade sem machismo, racismo e homofobia. Luto pra ter direito ao meu corpo e a minha vida. Luto para não virar estatística. Afinal, sou jovem, mulher, negra, nordestina e de periferia. Isso não deveria ser fator para determinar que estou exposta à morte. Sim, morte! Ou alguém pensa que o aparelho repressor do Estado não age justamente sobre esta população? Ou as grandes corporações que controlam até o que eu tenho que vestir? E a indústria da beleza que diz que já tenho que usar o Renew +25 da AVON e ter uma pele sedosa (nesse sol infernal de Salvador!) ou que tenho que ter um cabelo como o da Juliana Paes usando Garnier. Ah, tem também os valores judaico-cristãos que dizem que eu não posso escolher quando ter filhos, se quero ter filhos ou com quem eu terei essas crianças. A tarefa da reprodução é minha, nasci com útero e ovários, mas daí a dizer que eu eu não me determino, que eu não tenho vontade, que eu não tenho coragem... São muitos quinhentos!

O machismo é base estruturante no sistema de exploração capitalista. Afinal, quem é que vai trabalhar com fome? E com as roupas sujas? Quem tem que limpar a casa e cuidar das crianças? Quem é que fica com o "não-trabalho" doméstico? Bem, somos ensinadas a cuidar, zelar, sermos tranquilas, doces, na real: nos domesticam! Sabe o que me cabe? Lutar! Luto por uma sociedade sem a opressão machista, sem ser tratada como inferior, sem necessitar de autorização de pai ou companheiro para fazer nada, sem ser mutilada ou ter um casamento arranjado, sem ser assediada na rua ou no trabalho... Luto pela minha vida e pela vida das milhares de mulheres desse mundão!

Bem, fica o convite à luta. Homens e mulheres devem se unir no combate à violência sexista, ao racismo, à homofobia, a todo e qualquer tipo de preconceito. Precisamos, todos e todas, encontrarmos formas de superar esse modo de organização social. Devemos ter como horizonte uma sociedade de igualdade. Para tal, precisamos de reparação e ações afirmativas para os setores excluídos da sociedade. Precisamos lembrar que temos o poder do voto, que temos que eleger companheiras e companheiros comprometidos com esse ideal. Meu pacto é com a classe trabalhadora!

Todas e todos unidos por um mundo sem violência e exploração!