28 de novembro de 2009

Nem o cheiro...

Não adianta
Me ver sorrir
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilhada...

Acordei nessa manhã sentindo o gosto e o cheiro do sangue. Sabia que a flor mais bonita tinha espinhos escondidos sob suas pétalas, aquela beleza não é gratuita e serena. Recebi o pior "bom dia" de minha vida, queria fugir dali, queria esquecer a dor que aquele espinho me causou. Meu coração está agoniado como um siri na lata, como um bicho que definha e espera o momento do abate.

...Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair
Se ligarem não estou...

A noite, embriagada por desejos e fantasia, sofreu um abrupto choque de consciência. Uma porta se fechou, meu coração se debate angustiado, meus olhos teimam em não deixar lágrima sequer rolar pela face triste. Aquela porta fechada e as palavras alheias fizeram com que meu jardim perdesse o brilho, o encanto. Nem o brilho da flor mais bonita serenou, na verdade, foi ela que causou esse estrago. A ponta de meu dedo ainda sangra, se esvaem as esperanças, a alegria, a serenidade, se esvai aquele sopro de felicidade gratuita.

...À manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tudo...

Desejo esquecer esta manhã. Saí, além de ressaca, com o coração partido. Me perdi nos caminhos tortuosos de desejar aquela flor, me perdi na fantasia e no sonho que ela fez brotar. Não era minha, sabia, mas não precisava ter tanta certeza e nitidez. Nem o mar serenou meu peito. Hoje o dia foi uma sucessão de segundos impregnados de dor e angústia, hoje não quero ver ninguém ou sorrir para ninguém. Tenho a convicção de que estava completamente equivocada sobre aquela flor. Achei que ela estava em meu jardim, mas esta flor é errante e deixa como herança um dedo furado e um coração atormentado.

...Passa a nuvem negra
Larga o dia
E vê se leva o mal
Que me arrasou
Pra que não faça sofrer
Mais ninguém...

Agora espero que os segundos passem depressa e levem esse amor pra longe. Não quero mais desejar a flor, quero meu jardim de volta, quero minha paz de volta. Consegui tocar os extremos em sete dias, consegui me convencer da paixão que existia, tento me convencer a levantar e esperar que esses dias passem depressa. Quero me esconder de tudo, tentar chorar num canto escondido sob a sombra de alguma árvore. Preciso fazer um curativo neste dedo que jorra meu sopro de vida, meus sonhos mais escondidos, meus desejos

...Esse amor
Que é raro
E é preciso
Pra nos levantar
Me derrubou
Não sabe parar
De crescer
E doer...

Assim como a música Nuvem Negra (Djavan), quero só que passe essa nuvem e que o sol volte a brilhar, como em o Sol Nascerá (Cartola). As lágrimas estão guardadas e dificilmente sairão, o peito dói e dificilmente aceitarei sentir novamente aquilo pelo que hoje sangro. O dia perdeu o brilho e as ervas daninhas voltam a se alastrar brandamente pelo meu jardim, que hoje também perdeu seu brilho... Só restou a lembrança da flor


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